quarta-feira, 5 de março de 2014
terça-feira, 4 de março de 2014
Trecho do diário de Kafka
"Ódio da introspecção activa. Explicações da nossa alma, tais como: ontem eu estava assim e assado, por esta ou por aquela razão; hoje estou assim e assado, por qualquer outra razão. Não é verdade, nem por esta razão nem por aquela razão, e por isso também nem assim nem assado.
Enfrentar-se a si próprio calmamente, sem precipitações, viver como se tem de viver, não andar à caça do próprio rabo como o cão.
Adormeci nos arbustos. Um barulho acordou-me. Encontrei um livro nas minhas mãos, que tinha estado a ler. Deitei-o fora e levantei-me de um salto. Passava pouco do meio-dia; em frente da colina em que eu estava estendia-se uma grande planura com aldeias e lagos e sebes todas iguais, altas, que pareciam feitas de junco. Pus as mãos nas ancas, examinei tudo com o olhar, e ao mesmo tempo escutei o barulho."
Franz Kafka, in 'Diário (09 Dez 1913)'
Enfrentar-se a si próprio calmamente, sem precipitações, viver como se tem de viver, não andar à caça do próprio rabo como o cão.
Adormeci nos arbustos. Um barulho acordou-me. Encontrei um livro nas minhas mãos, que tinha estado a ler. Deitei-o fora e levantei-me de um salto. Passava pouco do meio-dia; em frente da colina em que eu estava estendia-se uma grande planura com aldeias e lagos e sebes todas iguais, altas, que pareciam feitas de junco. Pus as mãos nas ancas, examinei tudo com o olhar, e ao mesmo tempo escutei o barulho."
Franz Kafka, in 'Diário (09 Dez 1913)'
Não nutra pena por si própria
"Eu queria poder traduzir por meio da escrita, um bom conselho, ou melhor dizendo, uma advertência crucial, cujo valor é inestimável. Mulher, sê firme, frutifica inciativas, acorda! Não permita que a vida atravesse estes dias, meses e anos sem mexer com tua estrutura, bem como com a daqueles que te cercam, tu podes ir bem além menina! Cresce, age, tu és a única capaz de parametrizar tuas metas, de investir o quanto puder nas armas e armaduras, pisa em tudo que for frágil, aniquila a facilidade, ela é traiçoeira e tem como fulcro estourar teus anseios, decerto que ela te levará exatamente onde jamais pensarias chegar: À ruína completa! Olvida, outrossim, a autocomiseração, esta, tão imunda como aquela, é competente para distrair-te do cerne da tua vida, irá seduzir-te a dormir quando hora for de correr, recorda sempre menina, não admita que o sol te encontre em sono, movimenta-te, quando não houver, cria, se já foi criado, inova, e depois de inovar, atreve-te como nunca! Não iluda sua mente tentando convencê-la que já fizeste muito por hoje, que agora é preciso descansar, este tipo de nutrição vai prejudicar-te incomensuravelmente, teu corpo há de se acostumar com o ritmo que deres à ele, seja este intenso ou negligenciador, TU ESCOLHES, mas lembra, isto vai definir o que tu conseguirás alcançar posteriormente. Sê intensa como antes, não dê atenção aos rótulos que, porventura, te possam nomear, sinta o apoio forte de alguém, valorize-o, e basta. Agarre as horas e use-as com o maior afinco possível, aprenda algo novo a cada dia, ainda que seja uma mera palavra, estude algo, atravesse esta ponte, arrisque, confie, cresça novamente e mais, optimize seu tempo, muda, ame mais a si própria, edifique seus sonhos, ascenda! Ajuda-te! Só deste modo poderás realizar algo por alguém." - P.P.
Coerção do mundo e autocoerção
"Os casos e acontecimentos que nos dizem respeito aparecem e entrecruzam-se isoladamente, sem ordem nem relação uns com os outros, no mais vivo contraste e sem nada em comum, a não ser justamente o facto de se relacionarem connosco. Dessa maneira, para corresponder a esses casos e acontecimentos, os nossos pensamentos e cuidados têm igualmente de estar desligados uns dos outros. Como consequência, quando empreendemos algo, temos de nos abstrair de tudo o resto, para então tratar cada coisa a seu tempo, fruí-la e senti-la, sem demais preocupações. Precisamos ter, por assim dizer, compartimentos para os nossos pensamentos e abrir apenas um deles, enquanto os outros permanecem fechados. Desse modo, conseguimos impedir que uma preocupação muito grave roube cada pequeno prazer do presente, despojando-nos de toda a tranquilidade.
Conseguimos ainda fazer com que uma ponderação não reprima a outra, que a preocupação com um caso importante não produza a negligência de muitos de menor relevância, e assim por diante. Mas sobretudo o homem capaz de considerações elevadas e nobres nunca pode deixar o seu espírito ser totalmente possuído e absorvido por casos pessoais e preocupações triviais, a ponto de impedir o acesso às altas considerações, pois isso, de facto, faria valer a sentença «para viver, perder as causas da vida» (Juvenal).
Decerto, para conseguirmos realizar realizar essas manobras e contramanobras espirituais, bem como muitas outras coisas, precisamos de impor uma coerção a nós mesmos. Para isso, entretanto, devemos fortalecer-nos com a ponderação de que todo o homem tem de sofrer coerções numerosas e grandes, vindas do mundo exterior, das quais nenhuma vida se exime. Contudo, uma pequena autocoerção, aplicada no lugar correcto, previne muitas coerções vindas do exterior, assim como um pequeno recorte no círculo próximo ao centro corresponde a um outro cem vezes maior na periferia. Nada nos subtrai mais à coerção vinda do exterior que a autocoerção. É o que diz a sentença de Séneca: Se queres submeter tudo a ti mesmo, submete-te primeiro à razão.
Além disso, temos sempre essa autocoerção em nosso poder e podemos relaxá-la um pouco em casos extermos ou quando atingir o nosso ponto mais sensível; já a coerção que vem de fora, ao contrário, não tem consideração nem indulgência e é insensível. Assim, é sábio prevenir esta por meio daquela."
Arthur Schopenhauer, in ''Aforismos para a Sabedoria de Vida'
Decerto, para conseguirmos realizar realizar essas manobras e contramanobras espirituais, bem como muitas outras coisas, precisamos de impor uma coerção a nós mesmos. Para isso, entretanto, devemos fortalecer-nos com a ponderação de que todo o homem tem de sofrer coerções numerosas e grandes, vindas do mundo exterior, das quais nenhuma vida se exime. Contudo, uma pequena autocoerção, aplicada no lugar correcto, previne muitas coerções vindas do exterior, assim como um pequeno recorte no círculo próximo ao centro corresponde a um outro cem vezes maior na periferia. Nada nos subtrai mais à coerção vinda do exterior que a autocoerção. É o que diz a sentença de Séneca: Se queres submeter tudo a ti mesmo, submete-te primeiro à razão.
Além disso, temos sempre essa autocoerção em nosso poder e podemos relaxá-la um pouco em casos extermos ou quando atingir o nosso ponto mais sensível; já a coerção que vem de fora, ao contrário, não tem consideração nem indulgência e é insensível. Assim, é sábio prevenir esta por meio daquela."
Arthur Schopenhauer, in ''Aforismos para a Sabedoria de Vida'
Assinar:
Postagens (Atom)