Eu sinceramente gostaria de ter nascido há mais de um século atrás e ter conhecido esse homem, ou melhor, ter sido sua amiga, com exceção dos meus pais, da minha irmã, avó, Márcio, Zé Graça e Nick Vujicic, não consigo admirar outro ser terrestre mais do que a ele. Estou apaixonada por alguém que já não existe. Eis, Sêneca, o prodígio da sabedoria, Deus se manifestava constantemente em suas palavras.
Estar em todo o lado é o mesmo que não estar em parte alguma! Ora a quem passa a vida em viagens acontece ter muitos conhecimentos fortuitos, mas nenhum amigo verdadeiro; o mesmo sucede logicamente àqueles que não se aplicam intimamente ao estudo de um pensador, mas sim percorrem todos de passagem e a correr. Um alimento que mal é ingerido imediatamente é "devolvido", não aproveita nem dá força ao corpo; igualmente nada prejudica tanto a saúde como a frequente mudança de medicamentos; uma ferida não cicatriza quando se lhe aplicam tentativamente diversos remédios; uma planta nunca se robustece se continuamente a mudamos de lugar; nada enfim, por muito útil, conserva a utilidade em contínua mudança. Demasiada abundância de livros é fonte de dispersão; assim, como não poderás ler tudo quanto possuis, contenta-te em possuir apenas o que possas ler. Dirás tu: "Mas sinto vontade de folhear ora este livro, ora aquele." Provar muita coisa é sintoma de estômago embotado; quando são muitos e variados os pratos, só fazem mal em vez de alimentar. Lê, portanto, constantemente autores de confiança e quando sentires vontade de passar a outros, regressa aos primeiros. Reflita todos os dias em qualquer texto que te auxilie a encarar a indigência, a morte, ou qualquer outra calamidade; quando tiveres percorrido diversos textos, escolhe uma passagem que alimente a tua meditação durante o dia. É isso o que eu mesmo faço: de muita coisa que li retenho uma certa máxima. A minha máxima de hoje encontrei-a em Epicuro (é um hábito percorrer os acampamentos alheios, não como desertor, mas sim como batedor!). Diz ele: "É um bem desejável conservar a alegria em plena pobreza". E com razão, pois se há alegria não pode haver pobreza: não é pobre quem tem pouco, mas sim quem deseja mais. Que importa o que temos cofre, ou nos celeiros, quantas cabeças de gado ou quanto capital a juros, se fizermos as contas não ao que possuímos, mas ao que queremos possuir? Queres saber qual a justa medida das riquezas? Primeiro: aquilo que é necessário; segundo: aquilo que é suficiente! Adeus!
Cartas a Lucílio - Livro I, Carta II - Lúcio Aneu Sêneca
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