"Ela deambulava gradualmente e, à medida em que se distanciava de casa, cuidava em apressar-se como que numa tentativa de fuga ofuscada na sutileza de seus passos que, embora fossem firmes, careciam de cautelosa discrição.
Um pássaro sorrateiro que escapa sedento do azul inebriante dos mais longínquos horizontes, dos formidáveis tons esculpidos artesanalmente naquele céu, da peculiaridade existente em cada som pronunciado pelos mares, da brisa que acaricia os frutos do vigoroso Plátano nas tardes de outubro, do cheiro antigo de uma liberdade pouco vivida e que agora estava ali, sorrindo largamente para aquela ave dançante, sonhadora. Se era demasiado tarde? Ela nunca se importou.
O combustível para suas asas era composto de audácia e pujança, não havia nada capaz de frustrar os ideais que saltitavam em sua mente, já despida daqueles valores descaradamente invertidos e impregnados pela sociedade, das prioridades ignóbeis tatuadas em tantos corpos frívolos, infecundos, das fragrâncias sórdidas da desigualdade, egocentrismo, e da alienação encarcerada, que pairavam nos ares daquele lugar..."
[Sefora Jefté, em "Meu vôo", agosto de 2013]
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