quarta-feira, 11 de junho de 2014

A liberdade

Gente, segue uma dica de leitura, é apenas um pequeno artigo, mas vale a pena a reflexão proposta pelo mesmo, ascenda-o através do link:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/leonardopadura/2014/06/1466588-a-liberdade.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/leonardopadura/2014/06/1466588-a-liberdade.shtml

Uma ameaça sinistra está nascendo dentro dos laboratórios tecnológicos do Vale do Silício

A Inteligência Artificial, disfarçada como prestimosos assistentes digitais e veículos que não necessitam de motoristas, estão conquistando espaço – e ela poderia um dia significar o fim da humanidade.

Pelo menos é o que pensa Stephen Hawking, ganhador do Prêmio Nobel de Física, o qual alerta que a humanidade encara um futuro incerto à medida que a tecnologia aprende a pensar por si mesma e se adapta ao seu ambiente.

Stephen Hawking.

Num artigo publicado no Independent, o físico discutiu o filme mais recente de Jonny Depp, Transcendence, que retrata um mundo onde os computadores podem superar as habilidades humanas.

O professor Hawking disse que descartar o filme como sendo somente ficção científica seria o “pior erro na história“.

Ele argumenta que os desenvolvimentos nos assistentes digitais Siri, Google Now e Cortana são meramente sintomas de uma corrida armamentista de TI, a qual “será insignificante comparada com o que as décadas vindouras trarão“.
Mas Hawking nota que outros benefícios em potencial desta tecnologia poderiam também ser significantes, com o potencial para erradicar a guerra, as doenças e a pobreza.

“O sucesso na criação de IA (Inteligência Artificial) seria o maior evento da história humana“, ele disse. “Infelizmente, este também poderia ser o último, ao menos que aprendamos a evitar os riscos.”

A curto e médio prazos, os militares pelo mundo todo estão trabalhando para desenvolver sistemas de armamentos autônomos, com as Nações Unidas trabalhando simultaneamente para bani-los.

“Olhando mais para a frente, não há nenhum limite fundamental para o que possa ser conseguido“, disse Hawking. “Não há nenhuma lei física impossibilitando as partículas de se organizarem de forma a desempenharem computações ainda mais avançadas do que as disposições de partículas nos cérebros humanos.”

De fato, a IBM já desenvolveu chips inteligentes que poderiam pavimentar o caminho para redes de sensores que imitariam a capacidade humana de percepção, ação e pensamento.

Um dia, isto poderia ajudar aos cientistas de informática a desenvolverem uma máquina com um cérebro ainda mais inteligente do que o dos humanos.
“Como Irving Good percebeu em 1965, máquinas com inteligência super humana poderiam repetidamente melhorar seus desenhos, disparando o que Vernor Vinge chamou de ‘singularidade‘ “, disse Hawking.

Hawking também disse que os especialistas não estão preparados para estes cenários. Oferecendo uma comparação, ele disse que se os alienígenas nos dissessem que chegariam dentro de poucas décadas, os cientistas não ficariam simplesmente sentados esperando pela chegada deles.

“Embora estejamos encarando potencialmente a melhor e a pior coisa na história da humanidade, pouca pesquisa séria está sendo despendia no assunto. Todos nós deveríamos nos perguntar o que podemos fazer agora para melhorar as chances de colhermos benefícios e evitarmos os riscos.”



Fonte: www.dailymail.co.uk


http://ovnihoje.com/2014/05/05/steph...#axzz30rqnbMFG

terça-feira, 10 de junho de 2014

  • "We expect more of ourselves than we have any right to, in virtue of our endowments." --Oliver Wendell Holmes, Sr. (Over the Teacups)
"Teríamos rido de tal maneira, que os transeuntes achariam perigosa nossa grande alegria." (Pablo Neruda) 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Bebidas nos copos do mundo!

Elas ajudaram no surgimento da escrita e no desenvolvimento da filosofia, além de motivar guerras e revoluções. Da cerveja à Coca-Cola, as bebidas foram marcantes nos rumos da humanidade

Lia Hama | 01/09/2006 00h00
Idade da Pedra, Idade do Bronze, Idade do Ferro. Essa divisão de períodos históricos foi criada por arqueólogos. Eles se basearam no impacto do uso de cada um desses materiais na vida dos seres humanos ao longo dos tempos. Mas uma outra divisão, um pouco mais fluida, também é possível. Por exemplo: há aproximadamente 5500 anos, quando o Oriente Médio estava entrando na Idade do Bronze, as populações daquela região estavam em plena era da... cerveja.
Dividir a história do mundo em períodos dominados por determinadas bebidas: é isso o que propõe o jornalista inglês Tom Standage, editor da respeitada revista britânica The Economist. No livro História do Mundo em Seis Copos, ele mostra como a cerveja foi decisiva para o desenvolvimento da agricultura e da escrita – ajudando, assim, o homem a sair da Pré-história. Alguns milênios depois, o vinho esteve intimamente ligado ao desenvolvimento da filosofia grega. Até chegar à Coca-Cola e seu papel destacado na globalização que marcou a virada para o século 21, muita coisa aconteceu entre um gole e outro.
“As bebidas tiveram uma conexão com o fluxo da história bem maior do que geralmente se reconhece”, afirma Standage no livro. “Elas sobrevivem em nossas casas como lembranças vivas de eras passadas, testamentos líquidos das forças que moldaram o mundo moderno.” Na opinião do escritor britânico, a bebida do futuro será a água, o que significa que a história das bebidas voltará à sua fonte original. Sendo um recurso natural limitado e fundamental para a vida, muitos estudiosos apontam que a água substituirá o petróleo como a mercadoria escassa com maiores chances de provocar um conflito internacional. “Sua disponibilidade irá determinar o futuro da raça humana na Terra”, diz Standage. Enquanto a era da água não vem, confira como as bebidas ajudaram a trazer a humanidade até aqui.
Cerveja
Se a onipresença das campanhas de cerveja faz você achar que essa bebida nunca foi tão importante, saiba que ela já era fundamental na vida social, religiosa e econômica das antigas civilizações do Egito e da Mesopotâmia. Lá, era usada em cerimônias religiosas, funerais e rituais de fertilidade – os egípcios viam a cerveja como um presente dos deuses, por sua capacidade “mágica” de induzir um estado de consciência alterada.
Para alguns antropólogos, a necessidade de manter a oferta de cerveja teria sido um dos motivos para o desenvolvimento da agricultura. Como a demanda pela bebida era muito grande, não era possível continuar dependendo apenas da coleta de grãos selvagens para produzi-la. Nascia aí a necessidade de plantar e cultivar cereais.
A cerveja também foi decisiva para a origem da escrita, que surgiu para registrar a colheita de grãos e a distribuição de potes da bebida, pães e outras mercadorias. Os primeiros documentos escritos de que se tem notícia são listas salariais e recibos de impostos dos sumérios, nos quais o símbolo para a cerveja é um dos que mais aparecem. No Egito, a bebida era usada como moeda de troca. Os trabalhadores que construíram as pirâmides, por exemplo, eram pagos com pão e cerveja: cada um ganhava três ou quatro bolos de pão e duas canecas contendo cerca de 4 litros da bebida.
Vinho
A filosofia, a política, a ciência e a poesia da Grécia antiga, que até hoje servem de base para o pensamento ocidental, provavelmente não teriam ido tão longe sem o vinho. Era ele que ditava o ritmo nos simpósios, festas em que os participantes partilhavam uma grande taça de vinho diluído. Durante os debates acalorados, os bebedores tentavam superar um ao outro em inteligência. O filósofo grego Platão dizia que o vinho era uma ótima maneira de testar o caráter de um homem, submetendo-o às paixões despertadas pela bebida – como a raiva, o amor e a ambição.
O vinho tornou-se um dos principais produtos de exportação da Grécia antiga. Esse comércio ajudou a espalhar os ideais da civilização grega na região do Mediterrâneo e, mais tarde, no resto do mundo. O costume de beber vinho prosseguiu com os romanos, cuja sociedade hierarquizada se refletia no consumo da bebida. Cada classe social tinha seu vinho. O melhor de todos era o Falerno, feito com vinhas da região do monte de mesmo nome, no sul de Nápoles. Pela qualidade, ia para os imperadores. O pior era o Lora, feito com cascas, sementes e caules da uva, que era servido para os escravos.
Rum e Uísque
O rum foi um dos personagens centrais da independência dos Estados Unidos: entre pagar mais para beber e tentar derrubar o domínio inglês, os americanos ficaram com a segunda opção. Durante o século 18, um dos motivos para o aumento da hostilidade entre a Inglaterra e suas colônias na América do Norte foram os altos impostos que a metrópole cobrava sobre o comércio de melaço de cana, a principal matéria-prima do rum. Em 1781, cinco anos depois que os americanos se libertaram dos ingleses, John Adams, um dos fundadores dos Estados Unidos, escreveu para um amigo: “Não sei por que deveríamos ter vergonha de confessar que o melaço foi um ingrediente essencial na independência. Muitos grandes acontecimentos resultaram de causas muito menores”.
Já outro destilado, o uísque, era parte do dia-a-dia na América do Norte desde antes da independência. Muitos dos colonos americanos eram de origem escocesa ou irlandesa e tinham experiência na destilação de grãos. A bebida era usada como moeda (trocada por sal, açúcar, ferro e pólvora) e consumida em aniversários e funerais. Nos primeiros tempos, a democracia americana, que se tornou referência no mundo todo, era movida a uísque: políticos em campanha distribuíam a bebida aos eleitores.
Café
Abastecidos pela bebida que chegara à Europa no século 17, os cafés públicos de Paris eram ponto de encontro de intelectuais. No século seguinte, tornaram-se centros do revolucionário pensamento iluminista. Por causa disso, viviam cheios de espiões do governo. Qualquer um que falasse contra a monarquia corria o risco de ir para uma masmorra na Bastilha, a prisão que era símbolo do autoritarismo do regime. Tanto esforço de repressão, no entanto, foi em vão. Foi no café de Foy, em 12 de julho de 1789, que um jovem advogado chamado Camille Desmoulins colocou a Revolução Francesa em prática. Ele subiu numa mesa e, com uma pistola na mão, gritou: “Às armas, cidadãos!” Dois dias depois, a Bastilha foi tomada por uma multidão enfurecida.
Em Londres, na mesma época, quem desejava se informar sobre os últimos acontecimentos políticos, as mais novas descobertas científicas ou as fofocas da corte se dirigia a um café. Havia estabelecimentos especializados e divididos segundo a localização. Os próximos ao Palácio de Westminster, a sede do Parlamento britânico, eram freqüentados por políticos. Os que ficavam perto da Catedral de Saint-Paul, por clérigos e teólogos. Já os próximos à Bolsa de Valores atraíam os homens de negócio. Pelo preço de uma xícara da bebida, era possível ler jornais, conversar com outros fregueses ou participar de debates literários ou políticos. Os cafés eram grandes fontes de informação, mas o que se descobria lá nem sempre era confiável – mais ou menos como a internet no dias de hoje.
Chá
No século 18, muitas das rotas comerciais entre a Grã-Bretanha e o Oriente foram traçadas graças à enorme popularidade do chá entre os ingleses. Essa paixão contribuiu para que, naquela época, o Império Britânico chegasse a abranger 20% da superfície mundial. O lucro obtido com esse intercâmbio serviu para financiar o desenvolvimento acelerado das fábricas inglesas. O chá se transformou, assim, na bebida por excelência da Revolução Industrial. Os capitalistas ofereciam a seus empregados intervalos para o consumo da bebida – graças à cafeína, o líquido mantinha os operários acordados nos longos turnos de trabalho braçal.
Mas o chá também causou problemas sérios para a Inglaterra, já que, como o rum, foi um dos pivôs da independência dos Estados Unidos. A reação contra a tentativa britânica de taxar o produto provocou as chamadas “festas do chá”, em que colonos americanos jogavam ao mar carregamentos de chá de navios ingleses. Uma das mais conhecidas foi a Boston Tea Party (“Festa do Chá de Boston”), em 1773, quando agitadores esvaziaram três cargueiros. “Festas” como essa ajudaram a desestabilizar o poder da metrópole.
Depois da derrota na independência americana, o chá levou os ingleses a uma outra guerra, do outro lado do mundo. O consumo do produto na Inglaterra cresceu tanto que o país passou a ter prejuízo no saldo comercial com a China, de quem importava as folhas. Para tentar equilibrar a balança, os ingleses resolveram aumentar a produção de ópio que vendiam para os chineses. A disputa comercial levou à Guerra do Ópio, de 1839 a 1842, vencida pelos britânicos. No fim, os chineses foram forçados a assinar um tratado de paz humilhante, entregando o controle de Hong Kong aos vitoriosos – o território só foi devolvido em 1997.
Coca-Cola
A ascensão dos Estados Unidos e a globalização da guerra, da política, do comércio e das comunicações no século 20 foram acompanhadas pela ascensão da Coca-Cola, considerada símbolo dos valores americanos. Para os que admiram os Estados Unidos, ela significa liberdade de escolha e democracia. Para os que odeiam aquele país, ela representa o capitalismo cruel, a hegemonia das marcas globais e a diluição das culturas numa mediocridade homogeneizada.
A Coca-Cola acompanhou os Estados Unidos em diversos conflitos pelo mundo. Durante a Segunda Guerra, a bebida foi mandada para os campos de batalha, pois fazia os soldados americanos lembrarem-se de casa e ajudava a manter o moral elevado. Tal era sua importância que a empresa foi isenta do racionamento de açúcar imposto em 1942 – a justificativa foi a de que a bebida era essencial para o esforço de guerra. Essa presença no front se mantém até hoje. Quando as tropas norte-americanas ocuparam o palácio do ditador iraquiano Saddam Hussein em Bagdá, em abril de 2003, elas fizeram um churrasco com hambúrgueres, cachorros-quentes e, claro, muita Coca-Cola.
 Por Tom Standage

sábado, 7 de junho de 2014

"Assusto-me com a capacidade que o homem tem de não conhecer o significado da palavra "Coragem", as conseguem viver constantemente sem esta, acham-se muito fortes e cheias de brio, quando na verdade não passam de seres limitados à tudo o que é fácil, não se ouve falar mais em casais ávidos por enfrentarem dificuldades juntos, porque na medida em que um passa a incomodar o outro, este prontamente descarta-o, se não satisfaz, é simples, pretere-se, as pessoas esqueceram-se que o real valor das coisas e sobretudo das pessoas não se constrói com facilidades, e se eu quiser na vida apenas o que me parecer fluente e leve, sem encardo ou fardo algum, terei a superficialidade e fragilidade em tudo, terei a vida pautada em valores passageiros, sem alicerces. Como já dizia o provérbio chinês o mal se prolifera na sociedade porque já não se amam as pessoas e usam-se as coisas, agora, amam-se as coisas e usam-se as pessoas! 
O amor, ter um amor puro e verdadeiro não é coisa costumeira hodiernamente, encontrar alguém disposto a cultivar um amor assim é mais raro e árduo do que um dia imaginei, quisera eu poder incutir na mentalidade humana e em suas almas a ciência da dimensão e luminosidade deste sentimento, mas a mesma concupiscência que o homem apresenta para fugir de tudo o que é correto, tem ele de afugentar-se da magnitude desta ventura, combustível valioso às almas sábias e corações sublimes, estímulo ímpar de uma felicidade genuína, fabuloso provedor de sentidos para tudo que é tangível e intangível, é mesmo uma imensidão de alegria isto a que chamamos de amor!" - P.P.



Ler e escrever!

Publicado no Sul21 em 10 de agosto de 2013
O tempo para leitura parece cada vez mais comprimido e isto não é uma perda apenas para a literatura.
Por Alan Bisset, no The Guardian
(Traduzido por Milton Ribeiro)
Um súbito interesse renovado por Tolstói, causado pelo filme sobre seus últimos dias, A Última Estação, fez-me lembrar que há um ano atrás eu tinha prometido a mim mesmo reler Guerra e Paz. Fazia algum tempo que eu não enfrentava um romance de grandes proporções ou, para ser mais exato, qualquer coisa publicada antes do século XX. A releitura de Guerra e Paz iria me tranquilizar: minha resistência física e disponibilidade estavam intactas. Fui até a estante e descobri a página em que deixei o marcador –  ele estava na página 55 e eu sequer podia utilizar a desculpa de ter crianças pequenas.
O fato em si não teria me assustado — afinal, é Guerra e Paz — se não fosse a existência de outros marcadores abandonados em outros livros. Eu não estava terminando nenhum deles? Como é que eu, que adorava ficção o suficiente para estudá-la, ensiná-la e escrever a respeito, me tornara tão distraído?
Cena de Persona, de Ingmar Bergman
Cena de Persona, de Ingmar Bergman, 1966
O mundo dos meus tempos de estudante era fundamentalmente diferente do atual. Foi apenas no final da minha graduação que um amigo me mostrou uma maravilha chamada internet (Ele: “Há sites sobre qualquer assunto, tudo pode ser encontrado!”. Eu: “O que é um site?”). Nos anos 90, havia somente quatro canais de televisão. Cada família tinha um telefone, cujo uso era consecutivo. Poucos tinham jogos eletrônicos. Então, era muito mais fácil retirar-se completamente do mundo para a grande arquitetura do romance. Agora, o leitor está sob o ataque de centenas de canais de televisão, cinema 3D, há um negócio de jogos de computador tão florescente que faz com que Hollywood os imite em seus filmes, há os iPhones, o Wifi, o YouTube, o Facebook, há notícias 24h, uma cultura tola da celebridade — verdadeiras ou falsas — , acesso instantâneo a toda e qualquer música já registrada, temos o esporte onipresente, há caixas de DVDs com tudo o que gostamos. Os momentos de lazer que já eram preciosos foram engolidos pela lista anterior e também e-mails, torpedos e Facebook. Quase todas as pessoas com quem eu falo dizem amar os livros, mas que simplesmente não encontram mais tempo para lê-los. Bem, eles CERTAMENTE têm tempo, só que não conseguem gastá-lo de forma diferente.
Isto tem consequências desastrosas para nossa inteligência coletiva. Estamos sitiados pela indústria de entretenimento, a qual nos estimula apenas em determinadas direções. A sedução é sonora, visual e tátil. A concentração na palavra impressa, na profundidade de um argumento ou de uma narrativa ficcional, exige  uma postura que os dependentes dos meios visuais não têm condições de atender. Seus cérebros não se fixam na leitura ou, se leem, fazem-no rapidamente para voltar logo ao plin-plin. Ora, isso é um roubo de um espaço de pensamento que deveria ser recuperado.
Alphaville, de Godard, 1965
Alphaville, de Godard, 1965
Obviamente, os meios de comunicação como a Internet nos oferecem enormes benefícios (você não estaria lendo isto de outra forma), mas nos empurram facilmente para coisas bem superficiais que roubam nosso tempo. Você viu Avatar? Você viu o que eles podem fazer agora? Podem me chamar de melodramático, mas estou começando a me sentir como protagonista de alguma distopia (ou antiutopia) do gênero de 1984 ou Fahrenheit 451, tendo meus pensamentos apagados e, pior, gostando disso.
A Cultura mudou rapidamente nesta década. A leitura está sob ameaça como nunca antes. “Escrever e ler é uma forma de liberdade pessoal”, disse Don DeLillo em uma carta a Jonathan Franzen, que o questionara muito tempo antes da chegada da Internet. “A literatura nos liberta dos pensamentos comuns, de possuir a mesma identidade das pessoas que vemos em torno de nós. Nós, escritores, fundamentalmente, não escrevemos para sermos heróis de alguma subcultura, mas principalmente para nos salvar, para sobrevivermos como indivíduos.” Exatamente a mesma afirmação, penso eu, descreve a condição dos leitores sérios.
Deem-me o meu Tolstói. Agora é guerra.

Károly Ferenczy [ A beautifull book ] 1910

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Dia D: o desembarque na Normandia


Sword, Juno, Gold, Omaha, Utah... Uma a uma, as forças aliadas avançam sobre as praias ocupadas pelos alemães. A ordem: despejar bombas e soldados

Flávia Ribeiro e Fábio Varsano | 01/02/2008 00h00
“Havia navios de desembarque avançando pelo mar cinzento até onde os olhos podiam alcançar. O sol estava coberto e a fumaça soprava por todo o litoral.” Assim o escritor americano Ernest Hemingway, correspondente de guerra da revista Colliers, descreveu a chegada aliada em 6 de junho de 1944. Hemingway estava em uma balsa americana em direção a Fox Green, um setor da praia de Omaha, observando o impressionante ataque naval em direção à costa, ao nascer do sol: “‘Veja o que eles estão fazendo com aqueles alemães’, ouvi um recruta dizer, sob o rosnado do motor. ‘Acho que nenhum homem sairá vivo dali’, afirmou ele, contente”, conta Hemingway.
Ao amanhecer, os milhares de soldados embarcados, muitos enjoados pelo balanço do mar, receberam a ordem de avançar. Cada grupo tinha um setor da praia ao sul da Baía do Sena. De leste para oeste, esses setores ganharam os nomes de Sword, Juno, Gold, Omaha e Utah. O mar estava coalhado de navios e embarcações diversas, todos com o objetivo de despejar bombas ou soldados nas praias.
As britânicas Sword e Gold e a americana Utah foram tomadas com relativa facilidade – apesar de as metas das tropas que desembarcaram em Sword não terem sido alcançadas no primeiro dia. “O problema dos ingleses não foi dominar as praias, mas, sim, tomar Caen, que era considerado um alvo prioritário”, diz o historiador Márcio Scalercio, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e da Universidade Cândido Mendes.
Sob fogo cerrado
Com ou sem Caen, foram os canadenses em Juno e os americanos em Omaha que se envolveram em batalhas longas e sangrentas, com numerosas mortes tanto para o lado aliado quanto para o alemão. Em Juno, que ficava entre as duas praias dos ingleses, a divisão de infantaria e as brigadas armadas do Canadá começaram o dia tendo sérios problemas com a maré alta, os recifes naturais e os bancos de areia. Quando finalmente conseguiram desembarcar, enfrentaram fogo cerrado alemão. Havia numerosos ninhos de metralhadoras e canhões, e as equipes de assalto, as que desembarcaram primeiro, sofreram as maiores baixas. Dos 21,4 mil canadenses que foram lutar em Juno, 1,2 mil morreram ou ficaram gravemente feridos, quase todos nas primeiras horas.
Os canadenses precisavam transpor a muralha atlântica. Feito isso, chegariam a um campo livre, com pouca resistência. O problema era conseguir. Para tanto, usariam uma série de engenhocas britânicas, conhecidas como “Hobart‘s Funnies”, carros de combate modificados para flutuar na água, destruir minas e lançar chamas, por exemplo, inventados pelo major britânico Sir Percy Hobart – quase uma versão verdadeira do Q, o inventor das histórias de James Bond.
As baixas foram enormes, mas a infantaria canadense transpôs a muralha atlântica e entrou nas aldeias e cidades atrás dela promovendo uma feroz troca de tiros com os alemães escondidos dentro das casas. Juno, Sword e Gold tinham essa particularidade: diferentemente das praias atacadas pelos americanos, nelas ou em suas proximidades havia uma série de vilas, aldeias ou cidades. Muitas das lutas aconteceram no meio das ruas, entre casas de civis, algumas ocupadas pelos invasores.
Os combates de rua aconteceram ao longo de todo o dia, até que os canadenses tomaram as cidades de Bernières e de Saint-Aubin, já no início da noite. A partir daí, novas aldeias, pontes e encruzilhadas eram conquistadas. Não chegaram ao Aeroporto de Carpiquet – um dos objetivos –, mas avançaram bastante para o interior. Conseguiram cortar a estrada de Caen-Bayeux e se ligar à 50ª Divisão britânica em Gold. Mas não foram capazes de se unir à 3ª Divisão britânica na praia de Sword, deixando uma abertura pela qual a 12ª Divisão SS Panzer HitlerJugend, formada em grande parte por adolescentes da juventude hitlerista, contra-atacou.
No primeiro confronto entre os canadenses e a divisão blindada, 28 tanques aliados foram destruídos. Um dos comandantes alemães, Kurt Meyer, declarou que era hora de “jogar o peixinho de volta no mar”. Os peixinhos, no entanto, resistiram furiosamente. O combate se estendeu de 7 a 12 de junho, durante o qual os alemães perderam 60% de suas forças: 20% foram mortos e 40%, feridos. A poderosa divisão blindada de Hitler viu-se envolvida num dos mais longos e sangrentos confrontos da Overlord. Há relatos de atrocidades cometidas pelos dois lados do embate, e muitos membros da Divisão Panzer foram, mais tarde, julgados por crime de guerra.
Horror em Omaha
Na praia de Omaha, a ferocidade da batalha também impressionou. “Omaha foi um horror, porque lá os alemães estavam com uma divisão de infantaria de verdade”, ressalta Márcio Scalercio. Dos 34 mil homens que lá desembarcaram, cerca de mil morreram, a maioria na primeira hora. Ao longo do dia, os americanos perderam 2,4 mil soldados, entre mortos e feridos. Além disso, o forte vento afundou dezenas de tanques anfíbios.
“Fora um assalto mortal em plena luz do dia, contra uma praia minada, defendida por tudo o que a inventiva militar havia projetado. A praia fora defendida tenaz e inteligentemente, nenhuma tropa o faria melhor. Mas cada barco do Dix conseguiu desembarcar suas tropas e seu carregamento. Nenhum barco foi perdido por imperícia náutica. Todos os que se perderam o foram pela ação do inimigo. E tomáramos a praia”, escreveu Hemingway sobre o assalto a Fox Green. Lá, como em Easy Red, outro setor de Omaha, os soldados sofreram para superar a Muralha Atlântica de Hitler. O primeiro dia terminou em vantagem para os alemães.
“Praia de Omaha foi um pesadelo”, escreveu o general responsável pela invasão, Omar Bradley: “A 1ª Divisão ficou imobilizada praticamente no mar, enquanto o inimigo varria a praia com armas portáteis. A artilharia inimiga castigava impiedosamente as lanchas de desembarque que se aproximavam”. O comandante pensou até em recuar: “Cheguei a ter a impressão de que nossas forças tinham sofrido uma catástrofe irreversível, de que havia pouca esperança de que pudéssemos forçar nosso caminho para a praia. Particularmente, considerei a hipótese de evacuar a cabeça-de-praia”.
Mas, no dia seguinte, a situação começaria a se inverter. Os alemães gastaram a maior parte de sua munição durante o primeiro dia e não tinham como repô-la rapidamente. Já os americanos recebiam tropas e armamentos de reposição diretamente de um dos mulberries, portos artificiais erguidos pelos aliados nas proximidades. Lenta e laboriosamente, debaixo de saraivadas de tiros, conseguiram avançar para o interior.
Desembarque tranqüilo
Em Utah, graças ao trabalho da 82ª e da 101ª Divisões Aerotransportadas americanas, que protegeram todo o flanco ocidental da invasão, aconteceu o mais tranqüilo desembarque do Dia D. Para começar, 32 tanques anfíbios Sherman aportaram na praia, às 6h30. Os regimentos da 4ª Divisão de Infantaria americana vinham em sua esteira. Mas, por causa do bombardeio, do vento e da fumaça, muitos acabaram saltando longe dos lugares marcados. Ainda assim, foram ágeis na hora de se reunir.
Os homens sofreram mais com o mar, muito agitado, do que com os alemães. No fim, apenas 197 baixas entre 23 mil soldados americanos, que ao fim do dia já se moviam para sua nova missão: tomar Montebourg. A 101ª Aeroterrestre já havia aberto o caminho. Nos dias e nas semanas seguintes, a 4ª Divisão envolveu-se em embates bem mais violentos, mas tomou não só Montebourg, como também Cherbourg, além de participar da libertação de Paris.
Os ingleses não penaram tanto quanto os canadenses e os americanos de Omaha. Principalmente em Gold, onde, ao anoitecer, os britânicos já haviam entrado cerca de dez quilômetros para o interior e ligado-se aos canadenses em Creully, fechando uma passagem para os alemães. Houve somente 400 baixas entre 25 mil homens. Não tomaram Bayeux, na estrada para Caen, mas estavam em boa posição para fazê-lo nos dias que se seguiram.
Na turística Sword, cheia de casas de veraneio e lojas, os homens da 6ª Divisão Aeroterrestre deixaram o caminho livre para os soldados que desembarcaram em 6 de junho. Afinal, os alemães pretendiam defender sua posição na praia com as baterias de Merville, tomadas pelos pára-quedistas ingleses de madrugada. Ainda assim, o fogo alemão foi mais pesado lá do que em Gold ou Utah. Por isso, apesar de conseguirem dominar a praia, os britânicos não puderam se unir aos canadenses no flanco direito, que ficou desprotegido. Foi por ali que os alemães responderam violentamente.
Houve 630 baixas entre os 29 mil homens que invadiram Sword e que não conseguiram capturar Caen, o alvo principal. A cidade estava guardada pela 21ª Divisão Panzer, e o 22º Regimento dos blindados entrou em combate com os ingleses. Os Aliados ainda precisariam de vários dias até conseguir alcançar seu objetivo final. Mas o caminho estava bem pavimentado.
Por Flávia Ribeiro e Fábio Varsano
" O Homem nasceu livre, mas por toda a parte se acha em ferros." Jean Jacques Rousseau e eu poderíamos ter sido melhores amigos, ele lê meus pensamentos o tempo, é muita afinidade numa relação só! =D

quinta-feira, 5 de junho de 2014

A fuga de D. João - De Lisboa ao Brasil


"Uma das maiores tragédias da história de Portugal foi o terremoto de 1755, que arrasou a cidade de Lisboa. Cinqüenta e dois anos depois, em novembro de 1807, outro “tremor” voltava a chacoalhar o país. Desta vez, no entanto, o abalo era simbólico. A família real e toda a corte abandonavam sua terra natal, fugindo do avanço de Napoleão Bonaparte. O chão não chegou a se abrir. Mas o episódio imprimiria marcas tão profundas na história portuguesa quanto as deixadas pelo terremoto anterior.
A atabalhoada fuga de dom João e sua trupe foi decidida no dia 24 de novembro. Imagine a proporção épica da cena: algo entre 10 mil e 15 mil pessoas, na maioria de grande importância social e política, preparando-se para deixar o país, atravessar o Atlântico e ir morar numa terra completamente desconhecida. Já não bastasse a confusão instaurada, a natureza tratou de complicar a situação. Chovia sem parar em Lisboa e a lama tomava conta de todos os caminhos que levavam ao porto.
Planejado por Joaquim José de Azevedo, futuro Visconde do Rio Seco, o embarque foi caótico em todos os sentidos. Carruagens e carroças chegavam de várias partes da cidade, entulhando a zona portuária de caixotes, arcas, baús, pipas d´água e alimentos. A papelada oficial do governo acumulava-se em dezenas de caixas, assim como os 60 mil volumes da Biblioteca Real da Ajuda – entre eles, edição original de Os Lusíadas.
RAPA NOS PALÁCIOS
No palácio de Mafra, residência oficial de dom João, funcionários desmontavam adornos valiosos, tiravam quadros das paredes e recolhiam todo o ouro e a prata que podiam. Em Queluz, outro palácio real, antiguidades, porcelanas e pratarias foram amontoadas em diversas carroças. Era lá que a mãe do príncipe regente, dona Maria I, e a esposa, Carlota Joaquina, aguardavam para se juntar à comitiva em fuga, junto com os oito filhos do casal.
Dona Maria I, então com 73 anos, acabaria sendo autora da frase mais irônica dita naquele momento tão dramático. Ao reclamar da velocidade da carruagem que a transportava, teria dito ao cocheiro: “Não vá tão depressa, pensarão que estamos fugindo!” Ao chegar ao cais, não quis descer da carruagem, o que obrigou o comandante da frota a carregá-la e embarcá-la na nau capitânia. Também embarcaram a cunhada de dom João, Maria Benedita, de 61 anos, e sua tia Maria Anna, de 71.
E o príncipe regente? Bem... Consta que, preocupado com a reação do povo, fez o percurso incógnito, numa carruagem sem distinção, conduzido por um cocheiro de roupas comuns e acompanhado apenas de seu infante espanhol, Pedro Carlos. Havia um grande temor de que a população, ao descobrir o que estava acontecendo, tentasse impedir a fuga. Rumores circulavam por toda a cidade. Mas a verdade é que, momentos antes do embarque, a ficha ainda não tinha caído. Os portugueses que assistiam àquele corre-corre não acreditavam – ou não queriam acreditar – que estavam sendo deixados à própria sorte. Portugal teria de resistir aos franceses contando apenas com o apoio dos aliados britânicos. Enquanto isso, seus soberanos estariam sãos e salvos, a um oceano de distância."
Patrick Wilcken em "Império à deriva".

terça-feira, 3 de junho de 2014

A beleza de Deus

"Naquela madrugada, eu não conseguia dormir, algo me chamava para cá, resolvi atender àquele pedido, feliz decisão. Senti um arrepio indescritível, de repente, um calor abraçou-me fortemente, eu poderia traduzir como um vento impetuoso, e neste exato momento houve em meu coração a sensação de plenitude. Meus reflexos diante daquele êxtase foram agudos, fechei os olhos com certeza, veemência, mormente, instintivamente. Era como se aquele vento fosse meu amigo há séculos, ou em vidas longínquas. Posso declaro que, naquele instante, eu não estava provida de um décimo dos motivos que pudessem justificar a paz que arrebatou meu coração. Para mim, é deveras confuso exprimir algo tão inexplicável, tão místico e, no entanto, repleto de uma realeza arrebatadora. Deus se manifestou mais uma vez para mim, e desta vez, foi tangível, o seu Espírito ternamente Santo tocou-me de uma maneira inesquecível como já o fizera há anos, quando eu ainda, e também, era uma menina descobrindo coisas, pessoas, cores, e flores neste mundo. Ele, cujo nome tem inigualável poder, veio até mim, exígua criança, eterna aprendiz, amante da vida. Ele pronunciou docemente, quase que em sussurro, estas palavras em meu ouvido esquerdo: “Quanto mais a pequenez for visível em teu ser... quão mais será a tua erudição, luminosidade, espiritualidade. Nutre a tua humildade o quanto te for possível, e quando não te for mais, concentra-te, e esforça-te para fazê-lo mais. As pessoas perceberão, através de ti, que o segredo da evolução espiritual reside na sustentação incansável da simplicidade. Encontrarás em mim, o teu eterno refúgio quando tua mente pensar em vacilar, mas prometa-me: - Não esmoreça-te! Ajuda o mundo, ele necessita de pessoas que consigam aniquilar o egoísmo, a prepotência e intolerância, e este extermínio só é possível por meio da disseminação natural da humildade, fraternidade e paciência. Mas ainda, o nosso segredo, o enigma da tua alegria... é apenas o amor ao próximo, seja ele quem for."  - P.P. em 06/02/14
" Começo a descobrir a doçura de trabalhar com afinco, a endorfina produzida em meu corpo enquanto interpreto-me útil para algo ou alguém me faz tão bem, que eu desejo-te isto também! Almejo não parar tão logo. Energia, vontade, que sede, eu não quero descansar!" - P.P.