segunda-feira, 29 de julho de 2013

Nossa causa!

Hoje, em conversa com uma amiga que é professora primária, entendi a origem da educação extremamente subdesenvolvida em nosso país, entendi a raiz do problema que assola a vida de tantos brasileiros "agora" e, sobretudo, num amanhã não tão distante. Já não é novidade a constatação do crescimento de uma geração fadada ao desemprego em massa, sobretudo daqueles de classe baixa ou baixíssima. O mercado de trabalho não nos perdoa a falta de base escolar de qualidade, nem tenta compreender se tínhamos ou não incentivo por parte dos educadores, pais ou responsáveis. A enorme deficiência em matérias que muitos consideram não tão essenciais, posteriormente, não será atribuída ao quão desestimulado um professor é, os grandes empregadores jamais se preocuparão com esses detalhes, ao contrário, preterirá qualquer candidato que não lhe seja cem por cento conveniente, isso sem com a opção que o mesmo pode acatar de contar com a agilidade dos programas criados na eclética tecnologia de computadores, que passam à frente de qualquer humano que venha a ter pretensão de preencher uma determinada vaga, um programa sequer específico é capaz de tornar desnecessária a contratação de muitos,  e isso já é teoria obsoleta, só tende a agravar. 
Essa amiga, da qual falei, disse-me que o magistério tira-lhe todo o tempo, e que em troca disso, ainda não lucra o suficiente para ter uma vida digna, isso também não é um dado ignoto à sociedade e autoridades brasileiras, a grande interrogação reside no que se tem feito por todos para pôr um fim peremptório a esta pouca vergonha. Essa é uma questão tão prolixa que, na medida em que Cláudia me coloca a par de sua realidade, fui dominada por uma revolta, principalmente quando percebi a gravidade do que está a se passar neste país, da dificuldade que a profissão mais importante para um futuro probo, íntegro desta nação, traz para quem a escolhe, e a mediocridade com que são tratados os frutos deste feito, sendo estes, essenciais para a evolução de uma sociedade. 
É deveras assustador como o Brasil subestima esses heróis, é triste a desvalorização dispensada aos mesmos, e quando me vem à mente uma declaração dada este mês por um "MC" desses da nova moda, ou melhor, uma febre, uma verdadeira praga, uma "pandemia nacional", quando afirmou muito soberbamente ganhar mais de cem mil reais por mês, e gastar, no mínimo, três mil reais numa mera ida ao shopping, pasmem, mas esta é a lúgubre e lamentável realidade de nosso país. 
Reflete-se então, quem são os culpados? Nós, digo, "o Povo", elemento obrigatoriamente constitutivo desse Estado maior que afirma-se ser impulsionado pelo desejo de promoção da "ordem e progresso" para toda a nação, tanta jactância usada nos gritos de muitos ao pronunciar o hino nacional, para quê? Se quando erguem-se da "Justiça" a clava forte, vê-se logo que o filho desta nação foge sim à luta, e teme, teme muito, tantas coisas supérfluas, quem dirá a morte? Precisamos de professores que nos esclareçam que o Garrido existente em nosso hino nacional não é o sobrenome de um cantor de reggae, ou ainda, que saibam da subsistência desse adjetivo em nosso grito de guerra nacional. 
Ah, meu povo! A culpa não é exclusiva da presidenta, nem ela, nem os deputados, médicos, quiçá nem mesmo os próprios professores valorizam o nobilíssimo trabalho dos educadores, notem como a classe profissional da medicina reivindica seu reconhecimento exacerbado, altamente corporativista, se supervalorizam ao ponto de jamais se sujeitarem a qualquer espécie de ordem vinda de onde quer que seja, são simplesmente superiores a tudo e a todos, sabem porquê? Pelo simples fato de que estes têm a consciência de seus valores únicos, de que na falta deles, quem poderá salvar as vidas em risco? A saúde é urgente, sempre, mas a educação...vai-se protelando, protelando e quando nos deparamos com a realidade cruel..(do desemprego, da humilhação e desordem governamental) queremos atirar toda a culpabilidade na corrupção, na  ganância cega, no egoísmo. Não, não, isso tudo são frutos de uma árvore(problema) cuja raiz contém outras tantas prioridades que não a educação.  
Quando crianças, nenhum de nós temos o livre arbítrio de optar por uma boa ou má educação, costumes e cultura, isso tudo nos são impostos seja pelo governo, pelos professores, pelos pais, pela conjuntura da nossa família como um todo, enfim, somos como marionetes, vinculados à escolhas de quem goza de nossa tutela, permanente ou não. Muito diferentemente ocorre com o passar dos anos na vida de um indivíduo, é possível sim se entrar pela porta estreita, em todos os aspectos. Muitos se perguntam, mas e como fazer quando os próprios pais ou mesmo educadores consideram cultura ultrajante (como a idolatria pelos apologizadores do funk) a mais viável? Não me venham com a velha e obscura justificativa de que uma andorinha só não faz verão. É preciso que a primeira andorinha se manifeste, para que a partir daí as outras acomodadas percebam o mundo sob outro olhar, isso é que é preciso, não vêem? As minorias já começam a serem ouvidas, nos tribunais, nas manifestações, nos telejornais, ou mesmo nas prisões. Necessitamos acordar Brasil, semear a consciência de que não podemos cobrar nada dos governantes enquanto a mudança não começar por nós mesmos, nossos valores carecem ser radicalmente convertidos, ou do contrário, desconhecido será, e temo que sombrio em demasia, o futuro dessa nação.

Priscilla L. S. Pereira, João Pessoa - PB, Brasil, 28 de julho de 2013. Do capítulo "Nossa causa!", em "Exercendo um Direito Constitucional personalíssimo: A liberdade de expressão".

domingo, 28 de julho de 2013

Discurso do Papa Francisco

Senhor arcebispo do Rio de Janeiro,
Amados irmãos no episcopado,
Distintas autoridades,
Queridos membros da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
Prezados médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde,
Amados jovens e familiares!
Quis Deus que meus passos, depois do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se dirigissem para um particular santuário do sofrimento humano, que é o Hospital São Francisco de Assis. É bem conhecida a conversão do santo patrono de vocês: o jovem Francisco abandona riquezas e comodidades do mundo para fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou um leproso. Aquele irmão sofredor foi "mediador de luz (...) para são Francisco de Assis" [carta enc. "Lumen Fidei", 57], porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência química, quero abraçar a cada um e cada uma de vocês --vocês que são a carne de Cristo-- e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança segura o caminho de vocês e também o meu.
Abraçar. Precisamos todos aprender a abraçar quem passa necessidade, como são Francisco. Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química. Frequentemente, porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os "mercadores de morte" que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo custo! A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos olhar o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor.
Mas abraçar não é suficiente. Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: você pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser. Queridos amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: você é o protagonista da subida; esta é a condição imprescindível! Você encontrará a mão estendida de quem quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a subida no seu lugar. Mas vocês nunca estão sozinhos! A igreja e muitas pessoas estão solidárias com vocês. Olhem para a frente com confiança; a travessia é longa e cansativa, mas olhem para a frente, existe "um futuro certo, que se coloca numa perspectiva diferente relativamente às propostas ilusórias dos ídolos do mundo, mas que dá novo impulso e nova força à vida de todos os dias" [carta encícl. "Lumen Fidei", 57]. A vocês todos quero repetir: não deixem que lhes roubem a esperança! Mas digo também: não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança!
No Evangelho, lemos a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas não param; indiferentes, seguem o seu caminho; não é problema delas! Quantas vezes dissemos "não é o meu problema"? Quantas vezes não olhamos para o outro lado? Somente um samaritano, um desconhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mão e cuida dele [cf. Lc 10, 29-35]. Queridos amigos, penso que aqui, neste hospital, se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química ensinam a se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo o pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado! O serviço de vocês é precioso! Realizem-no sempre com amor; é um serviço feito a Cristo presente nos irmãos: "Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes" [Mt 25, 40], diz-nos Jesus.
E quero repetir a todos vocês que lutam contra a dependência química, a vocês familiares que têm uma tarefa que nem sempre é fácil: a igreja não está longe dos esforços que vocês fazem. Ela lhes acompanha com carinho. O Senhor está ao lado de vocês e lhes conduz pela mão. Olhem para Ele nos momentos mais duros e Ele lhes dará consolação e esperança. E confiem também no amor materno de Maria, sua Mãe. Esta manhã, no Santuário de Aparecida, confiei cada um de vocês ao seu coração. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre está Ela, nossa Mãe. Deixo-lhes em suas mãos enquanto, afetuosamente, a todos abençoo.
“A leitura dá-me força. É o combustível para meus vôos. O portal que me conduz ao que há de mais desejável neste mundo.” (Priscilla L. S. Pereira)


sexta-feira, 26 de julho de 2013

A independência


Jurisdição no relacionamento

Com a licença dos amigos não juristas, vale a pena conferir esse texto, é inteligível e interessante!

Já parou para pensar sobre a jurisdição do relacionamento?!? É puro processo, todo relacionamento traz embutido um processo de conhecimento, ao qual segue o processo de execução.
A doutrina da mocidade, então inventou as medidas cautelares e a tutela antecipada. Afinal de contas, com o "FICA" você obtém aquilo que conseguiria com o relacionamento principal, e, além do mais, toma conhecimento de tudo o que possa acontecer no futuro, já estando precavido.
Esse processo de conhecimento pode, de cara, ser extinto sem julgamento de mérito, por carência de ação. Pior é o indeferimento da inicial por inépcia. E sem contar que na ausência do impulso oficial a coisa não vai para frente. Havendo ilegitimidade da parte, o que normalmente se constata apenas na fase probatória; ou ainda a impossibilidade do pedido, não tem quem agüente!
E quando é o caso, ainda mais freqüente, de falta de interesse ... aí PACIÊNCIA!!
Se ocorrer intervenção de terceiros, a coisa complica, pois amplia objetivamente e subjetivamente o campo do relacionamento, transformando-o em questão prejudicial, pois como se sabe, todo litisconsórcio ativo é facultativo, dependendo do grau de abertura e modernidade do relacionamento.
É necessário estar sempre procedendo ao saneamento da relação, para se manter a higidez das fases futuras. É um procedimento especial, uma mescla entre o PROCESSO CIVIL e o PROCESSO PENAL, podendo surgir o rito ordinário, sumário, ou, até mesmo o sumaríssimo .... Dependendo da disposição de cada um.!
A competência para dirimir os conflitos é concorrente. E a regra é que se busque sempre a transação. Com o passar do tempo, depois de produzidas todas as provas de AMOR, chega o momento das alegações finais ... e o noivado! Este pode acontecer por simples requerimento ou então por USUCAPIÃO. Alguns conseguem a prescrição nesta fase.
E na hora da SENTENÇA, " Eu vos declaro marido e mulher, até que a morte os separe ". Isso ai em outras palavras é uma pena de PRISÃO PERPÉTUA!.
São colocadas as algemas no dedo esquerdo de cada um, na presença de todas as testemunhas de acusação (CONVIDADOS)..
E de acordo com a regra de DIREITO DAS COISAS, "O acessório segue o principal" casou, ganha uma sogra de presente. Neste caso específico, ainda temos uma exceção, pois laços de afinidade não se desfazem com o fim do casamento. Mas a sentença faz apenas coisa julgada formal, sendo possível revê-la a qualquer momento... mas se for consensual tem que esperar um ano, APENAS! Talvez você consiga um "HABEAS CORPUS" e a liberdade novamente. Como dizia um amigo nosso "O casamento é a única prisão que se ganha a liberdade por mau comportamento" ESSA É BOA!!
Ahh!! Neste caso você será condenado nas custas processuais e uma pena restritiva de direito, além de uma prestação pecuniária (PENSÃO) e perdimentos de bens e valores.!
Esse texto foi redigido com o fito de "desincentivo" ao casamento =]

From the inside out - Hillsong United

"Meu Pai do céu... eu quase me esqueci que o teu amor vela por mim, e que seja sempre assim." [Robson Nascimento]
"Não, não há! Não há mal, que nos possa vencer. Pois tudo podemos naquele que nos fortalece,Tudo podemos em Jesus Cristo. Nenhum problema, ou nossos pecados, nem a tristeza ou a dor, nem a vingança e nem mesmo o ódio, poderão superar o amor de Deus. Ele é maior que tudo que nos aconteceDeus é grande, supremo rei!" [Deus é maior - Flavinho, Canção Nova] 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A saudade!


Ê coração... anda tão apertado, buscando um espaço para respirar. Sufocado com tanta falta de ti. 

Vorrei averti qui vicino a me! 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Leitura que "Liberta"!

O livro "A Menina que Roubava Livros", de Markus Zusak, é o mais lido nas penitenciárias federais do Brasil. Segundo levantamento do Ministério da Justiça, "O Menino do Pijama Listrado", de John Boyne, e "O Caçador de Pipas", de Khaled Hosseini, ficaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente, na preferência dos presos. A cada resenha de uma obra lida que entrega, o detento tem a pena diminuída em quatro dias.
O primeiro título brasileiro a figurar na lista é "Nunca Desista dos Seus Sonhos", de Augusto Cury. O livro de autoajuda está em quarto lugar entre os presidiários. No catálogo do projeto Remição pela Leitura estão 124 obras. [Colunista da F.SP. Mônica Bergamo]

Abraça-me!

"Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos. 
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que dele fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes. 
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais. 
Uma vez que nem sei se tu existes." 

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum' 


G.I. Jane

"Nunca vi um animal selvagem ter pena de si mesmo, um pássaro cai morto de cima de uma árvore, sem nunca ter sentido pena de si mesmo." - G.I. Jane
Citação estupenda ditada no filme "Até o limite da honra" ou "Até ao limite" uma super indicação minha para quem gosta de filmes fortes e instigantes. Deixo a dica. Filme de 97, dirigido por Ridley Scott,  seu título original é G.I. Jane.






terça-feira, 23 de julho de 2013

Carta a Rosa Barreiras

"Estranho e inexplicável sentimento este! Que quando sinto transbordar-me do coração toda esta imensa ventura, acomete-me então um terror grande - parece-me que é impossível ser tão feliz - que o Mundo não comporta esta ventura celeste, e que chegado ao ápice de todas as felicidades já será forçoso declinar. (...) Sucede-te isto também a ti, esposa querida do meu coração? Conheces tu também este tormento, anjo divino? 
Ai, Rosa, minha doce Rosa, este que nós sentimos, este é o verdadeiro amor de que tanto se fala, e tão pouco se sabe o que é. São regiões pouco conhecidas em que a cada passo se encontram belezas nunca sonhadas, terrores inexplicáveis, felicidades sem par e tristezas que não têm nome. 
(...) Oh! Como se riria de mim quem lesse esta carta, Rosa! - De mim que eles julgam um incrédulo, um céptico, e cujas palavras sarcásticas no Mundo não significam senão a mais perfeita indiferença por tudo! Há dois homens em mim, vida desta alma; um é o que vêem todos, o que fez a experiência, a sociedade e o conhecimento de suas misérias e nulidades - o outro é o que tu fizeste, é a criação do teu amor, a tua obra, e este vale muito decerto, porque é feito à tua imagem." 

Almeida Garrett, in 'Carta a Rosa Barreiras'

A leitura e a vida (Mário Vargas Lhosa)

"Sempre causa dó encontrar pessoas que, podendo adquirir conhecimento, tendo-o ao alcance da mão, renunciam a fazê-lo. Há milhões de seres humanos, que podem estudar, ler, adquirir cultura, e optam espontaneamente por permanecer nas trevas. Estas pessoas não se conscientizaram de que a leitura é um dos mais enriquecedores afazeres do espírito, uma atividade insubstituível para a formação do cidadão, por isso esse hábito deveria ser inculcado pelas famílias em todas as crianças e ser transformado em um programa educacional. 
A literatura, diferente da ciência, sempre foi e continuará sendo, enquanto existir, um denominador comum da experiência humana, graças ao qual os seres vivos se reconhecem e conversam, não importando quão distintas são suas ocupações. Quando se encontra alguém que leu o mesmo livro que lemos, a conversa flui naturalmente. Graças à literatura, entende-se melhor a vida e também se vive melhor, porque a ficção enriquece imaginariamente nossa existência, que se torna menos feia, menos triste e menos mesquinha. Toma-se conhecimento de vidas que são feitas de palavras e de imaginação as quais coexistem com a vida real. A literatura não nasce, quando o escritor escreve a obra, mas sim, quando é lida por outros e passa a ser um fato social, quando se torna uma experiência compartilhada.
Um dos primeiros efeitos da leitura é sentido na linguagem, pois a pessoa que não conhece as obras literárias se expressa com menos precisão, com menos clareza e com menos vivacidade que aquela pessoa lida, visto que esta fez da palavra seu principal instrumento de comunicação, é uma pessoa que se aperfeiçoou graças aos textos literários. 
Quem não lê assemelha-se a um gago, já que sua linguagem rudimentar a faz ter tantos problemas de comunicação quanto este. Quem não lê, ou lê pouco, ou só lê lixo, pode falar muito, mas só dirá tolices, porque seu repertório de palavras é mínimo, é deficiente para expressar as idéias, que também são desinteressantes. A pessoa tem limitações, não só verbais, mas racionais, possui uma indigência de pensamento e de conhecimento, porque, com poucas palavras, com um vocabulário exíguo, não é possível a alguém apreender a realidade. Aprende-se a falar com correção, com rigor e com sutiliza graças à boa literatura e somente graças a ela. Não há outro caminho, pois nenhuma outra disciplina pode substituir a literatura na formação da linguagem com que as pessoas se expressam. Nenhuma ciência nos ensina a dominar as palavras nem a nos expressar com propriedade.
Falar bem, dispor de uma fala rica e diversa, encontrar a expressão adequada para cada idéia ou emoção que se quer expressar, significa estar mais bem preparado para pensar, ensinar, aprender, dialogar, sentir e emocionar-se. As palavras estão presentes em todos os atos da vida, mesmo naqueles que parecem distanciados da linguagem. Lendo, as pessoas evoluem até o nível do refinamento. Sem as obras literárias, os seres ficam semi-idiotizados e, a cada dia, pioram, vítimas de todos os meios de que a sociedade dispõe, para emburrecer seus membros, que buscam prazeres pouco diferenciados daqueles que saciam os animais.
O leitor, como eu, sabe que, com a literatura, somos outros, mais intensos, mais ricos, mais completos, mais lúcidos e sabemos questionar os fatos com argumentos. Uma sociedade livre precisa de cidadãos que leiam, pois este têm capacidade de questioná-la, e isso nós vimos ao longo da História: os lidos puseram a Igreja em xeque-mate e derrotaram os demônios avassaladores que ela fazia questão de propagar. A civilização nasceu e avançou neste momento.
A literatura forma cidadãos críticos e independentes, difíceis de manipular, em permanente mobilização e com uma curiosidade sempre em brasa, pois, ao mesmo tempo em que ela tira, por horas, a pessoa da vida real, incrementa e desenvolve sua sensibilidade, fazendo-a enxergar o que os outros não percebem, aqueles que apenas vivem desenvolvendo atividades cerebrais básicas. Se dependermos dos que desprezam a leitura, chegaremos a uma sociedade em que as palavras serão substituídas pelos grunhidos e pela gesticulação simiesca.
Nossa história não está escrita, não existe um destino preestabelecido que tenha decidido por nós o que seremos. Pode-se optar pela literatura, fonte motivadora que refina a sensibilidade, ensina a falar sobre tudo o que se deseja e conseqüentemente faz a pessoa mais livre. Infelizmente, há os que optam por não conhecer e acham que civilidade é computador, tela e microfones." (Mário Vargas Lhosa)

                            

Ariano Suassuna

"Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!'. A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são 'gaia', 'cabaré', e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.
Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá:
Calcinha no chão (Caviar com Rapadura),
Zé Priquito (Duquinha), 
Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), 
Chefe do puteiro (Aviões do forró), 
Mulher roleira (Saia Rodada), 
Mulher roleira a resposta (Forró Real), 
Chico Rola (Bonde do Forró), 
Banho de língua (Solteirões do Forró), 
Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), 
Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), 
Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), 
Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), 
Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). 
Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.
Porém o culpado desta 'desculhambação' não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de 'forró', parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado, Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.
Aqui o que se autodenomina 'forró estilizado' continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem 'rapariga na platéia', alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é: 'É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!', alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

Ariano Suassuna

A evolução da tabuada por Antônia Franco

Antigamente se ensinava e cobrava tabuada, caligrafia, redação, datilografia...Havia aulas de Educação Física, Moral e Cívica, Práticas Agrícolas, Práticas Industriais e cantava-se o Hino Nacional, hasteando a Bandeira Nacional antes de iniciar as aulas...Leiam relato de uma Professora de Matemática:
Texto da Profa. Antônia Franco:
Semana passada comprei um produto que custou R$15,80. Dei à balconista R$ 20,00 e peguei na minha bolsa 80 centavos, para evitar receber
ainda mais moedas. A balconista pegou o dinheiro e ficou olhando para a máquina registradora, aparentemente sem saber o que fazer.
Tentei explicar que ela tinha que me dar 5,00 reais de troco, mas ela não se convenceu e chamou o gerente para ajudá-la. Ficou com lágrimas nos olhos enquanto o gerente tentava explicar e ela aparentemente continuava sem entender. Por que estou contando isso?
Porque me dei conta da evolução do ensino de matemática desde 1950, que foi assim:

1. Ensino de matemática em 1950:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda. Qual é o lucro?
2. Ensino de matemática em 1970:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda ou R$80,00. Qual é o lucro?
3. Ensino de matemática em 1980:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$80,00. Qual é o lucro?
4. Ensino de matemática em 1990:Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$80,00. Escolha a resposta certa, que indica o lucro:
( )R$ 20,00 ( )R$40,00 ( )R$60,00 ( )R$80,00 ( )R$100,00
5. Ensino de matemática em 2000:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$80,00. O lucro é de R$ 20,00.Está certo?
( )SIM ( ) NÃO
6. Ensino de matemática em 2009:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção é R$ 80,00.Se você souber ler coloque um X no R$ 20,00.
( )R$ 20,00 ( )R$40,00 ( )R$60,00 ( )R$80,00 ( )R$100,00
7. Em 2010 vai ser assim:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Se você souber ler coloque um X no R$ 20,00. (Se você é afro descendente, especial, indígena ou de qualquer outra minoria social não precisa responder)
( )R$ 20,00 ( )R$40,00 ( )R$60,00 ( )R$80,00 ( )R$100,00
E se um moleque resolve pichar a sala de aula e a professora faz com que ele pinte a sala novamente, os pais ficam enfurecidos pois a professora provocou traumas na criança.
Em 1969 os Pais do aluno perguntavam ao "aluno": "Que notas são estas...???"
Em 2009 os Pais do aluno perguntam ao "professor": "Que notas são estas...???"
Essa pergunta foi vencedora em um congresso sobre vida sustentável.
"Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos...
Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"
Uma criança que aprende o respeito e a honra dentro de casa e recebe o exemplo vindo de seus pais, torna-se um adulto comprometido em todos os aspectos, inclusive em respeitar o planeta onde vive...

Amare!

Ela: Se eu ficar feia? 
Ele: Eu fico míope. 
Ela: Se eu ficar triste?  
Ele: Eu viro um palhaço.  
Ela: Se eu ficar gorda?  
Ele: Eu quebro o espelho. 
Ela: Se eu ficar velha? 
Ele: Eu fico velho junto. 
Ela: Se eu ficar rouca? 
Ele: Eu fico surdo
Ela: Se eu ficar chata? 
Ele: Eu te faço cócegas.



O importante na vida é ter alguém que ficará ao teu lado, ainda que o mundo inteiro te esqueça.

Trecho do livro "O homem que veio da sombra"

"Adeus: É quando o coração que parte deixa a metade com quem fica. 
Amigo: É alguém que fica para ajudar quando todo mundo se afasta. 
Amor ao próximo: É quando o estranho passa a ser amigo que ainda não abraçamos. 
Caridade: É quando a gente está com fome, só tem uma bolacha e reparte. 
Carinho: É quando a gente não encontra nenhuma palavra para expressar o que sente e fala com as mãos, colocando o fago em caca dedo. 
Ciúme: É quando o coração fica apertado porque confia em si mesmo. 
Cordialidade: É quando amamos muito uma pessoa e tratamos todo mundo da maneira que o tratamos. 
Doutrinação: É quando a gente conserva o espírito colocando o coração em cada palavra. 
Entendimento: É quando um velhinho caminha devagar na nossa frente e a gente estando apressado não reclama. 
Evangelho: É um livro que só se lê bem com o coração. 
Evolução: É quando a gente está lá na frente e sente vontade de buscar quem ficou para trás. 
Fé: É quando a gente diz que vai escalar um everest e o coração já o considera feito. 
Filhos: É quando deus entrega a jóia em nossa mão e recomenda cuidá-la. 
Fome: É quando o estômago manda um pedido para a boca e ela silencia. 
Inimizade: É quando a gente empurra a linha do afeto para bem distante. 
Inveja: É quando a gente ainda não descobriu que pode ser mais e melhor do que o outro. 
Lealdade: É quando a gente prefere morrer que trair a quem ama. 
Lágrima: É quando o coração pede aos olhos que falem por ele. 
Mágoa: É um espinho que a gente coloca no coração e se esquece de retirar. 
Maldade: É quando arrancamos as asas do anjo que deveríamos ser. 
Mediunidade de Jesus: É quando a gente serve de instrumento em uma comunidade mediúnica e a música tocada parece em noturno de chopin. 
Morte: Quer dizer viagem, transferência ou qualquer coisa com cheiro de eternidade.
Netos: É quando deus tem pena dos avós e manda anjos para alegrá-los. 
Obsessor: É quando o espírito adoece, manda embora e compaixão e convida a vingança para morar com ela. 
Ódio: É quando plantamos trigo o ano todo e estando os pendões maduros a gente queima tudo em um dia. 
Orgulho: é quando a gente é uma formiga e quer convencer os outros de que é um elefante. 
Paz: É o prêmio de quem cumpre o dever. 
Perdão: é uma alegria que a gente se dá e que pensava que jamais a teria. 
Perfume: É quando mesmo de olhos fechados a gente reconhece quem nos faz feliz. 
Pessimismo: É quando a gente perde a capacidade de ver em cores. 
Preguiça: É quando entra vírus na coragem e ela adoece. 
Raiva: É quando colocamos uma muralha no caminho da paz. 
Reencarnação: É quando a gente volta para o corpo, esquecido do que faz, para se lembrar do que ainda não fez. 
Saudade: É estando longe, sentir vontade de voar, e estando perto, querer parar o tempo. 
Sexo: É quando a gente ama tanto que tem vontade de morar dentro do outro. 
Simplicidade: É o comportamento de quem começa a ser sábio. 
Sinceridade: É quando nos expressamos como se o outro estivesse do outro lado do espelho. 
Solidão: É quando estamos cercado por pessoas, mas o coração não vê ninguém por perto. 
Supérfuo: É quando a nossa sede precisa de um gole de água e a gente pede um rio inteiro. 
Ternura: É quando alguém nos olha e os olhos brilham como duas estrelas. 
Vaidade: É quando a gente abdica da nossa essência por outra, geralmente pior.
"Vocabulário da Vida, texto de Luiz Gonzaga Pinheiro, em "O homem que veio da sombra".

Fabuloso!



Quão melhor nosso mundo seria se essa forma de pensar não fosse tão rara.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

"É preciso que acordemos. A inércia definitivamente não é o melhor caminho para se alcançar um alvo, eu me recuso a aceitar qualquer ideia que pretenda convencer-me de que eu não posso mudar algo, porque, ainda que sozinha, eu estaria apta a mudar ao menos uma realidade indesejada, a minha."[Priscilla L.S.Pereira]

"Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?" Fernando Pessoa em "Livro do Desassossego"



quarta-feira, 17 de julho de 2013

Vegetarianismo Ético


"Que crime horrível lançar em nossas entranhas as entranhas de seres animados, nutrir na sua substancia e no seu sangue o nosso corpo! para conservar a vida a um animal, porventura é mister que morra um outro? Porventura é mister que em meio de tantos bens que a melhor das mães, a terra, dá aos homens com tamanha profusão, prodigamente, se tenha ainda de recorrer à morte para o sustento, como fizeram ciclopes, e que só degolando animais seja possível cevar a nossa fome? [...] É desumanidade não nos comovermos com a morte do cabrito, cujos gritos tanto se assemelham aos das crianças, e comermos as aves a que tantas vezes demos de comer. Ah! quão pouco dista dum enorme crime! " [Ovídio em "Metamoforses"]

São João Crisóstomo, por exemplo, escreveu que a alimentação carnívora é uma luxúria e que o Homem ao comer carne é pior que os animais selvagens, que só têm esse forma de se alimentarem. Escreveu ainda, nas Homilias, que o ventre, quando sobrecarregado de carnes, vinga-se de nós por uma infinidade de males que nos faz sofrer.


"Se és, como te descreves a ti próprio, o rei dos animais -- seria preferível que te chamasses a ti próprio rei das feras selvagens porque és a maior de todas! -- porque não os ajudas para que eles possam ser capazes de oferecer os seus filhos ao teu palato, por mor do qual te transformaste num cemitério para todos os animais? Poderia ainda afirmar mais, se tal me fosse permitido." [Leonardo da Vinci]


“Leão Tolstoi foi um adepto e um apóstolo do vegetarismo. E não é pouco nem insignificante que um tal espírito e tão sublimado coração perfilhasse e praticasse essa doutrina, que a inércia moral e o poder do vício desprezam ou escarnecem na cegueira própria da sua particular estreiteza.” [Jaime de Magalhães Lima - amigo de Tolstoi, em 1911).

E eu também vou registrar aqui minha indignação com toda essa realidade: Não é justo que nós, seres humanos capazes de viver saudavelmente com os frutos e legumes que Deus nos dá em abundância, submetamos nossos inocentes animais à inenarrável injustiça de uma morte cruel, o prazer que aferimos no sabor de uma carne não compensa tantos crimes.  

Muitas verdades! Joo Ubaldo

"Precisa-se de Matéria-Prima para construir um País"
João Ubaldo Ribeiro*

A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve. E o que vier depois de Lula também não servirá para nada. Por isso estou começando a suspeitar que o problema não está no ladrão corrupto que foi Collor, ou na farsa que é o Lula. O problema está em nós.  Nós como POVO. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA" é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude  mais apreciada do que formar uma família, baseada  em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser  vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nas calçadas onde  se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE ESTÃO. 

Pertenço ao país onde as "EMPRESAS PRIVADAS" são papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos e para eles mesmos. Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo porque conseguiu "puxar" a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito. Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas fazem "gatos" para roubar luz e água e nos queixamos de como esses serviços estão caros. Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior nosso atual  Presidente, que recentemente falou que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem econômica. Onde nossos  congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar projetos e leis  que só servem para afundar ao que não tem, encher o saco ao que tem pouco e  beneficiar só a alguns. 


Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados médicos podem ser "comprados", sem fazer nenhum exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos  esbaldamos em criticar nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem  "molhei" a mão de um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado, melhor sou eu como brasileiro, apesar de ainda hoje de manhã passei para trás um cliente através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.  Não. Não. Não. Já basta. 


 Como "Matéria Prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "ESPERTEZA BRASILEIRA" congênita, essa desonestidade  em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte... Me entristeço. Porque, ainda que Lula renunciasse  hoje mesmo, o próximo  presidente que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer  nada.. Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas enquanto  alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, e nem serve Lula, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?  Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a  surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente sacaneados!!!  É muito gostoso ser brasileiro. Mas quando essa brasilinidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a coisa muda..  Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias. 


Nós temos que mudar, um novo governador com os mesmos brasileiros não poderá fazer nada. Está muito claro...... Somos nós os que temos que mudar.  Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda nos acontecendo: desculpamos a mediocridade mediante programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO. 

E você, o que pensa?.... MEDITE!!!

JOÃO UBALDO RIBEIRO

*João Ubaldo Ribeiro é baiano, escritor, dos melhores, membro da Academaia Brasileira de Letras. Participa da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, e lá recebe o Prêmio Anna Seghers, concedido somente a escritores alemães e latino-americanos. Num seminário de escritores em Berlim, produz uma crônica deliciosa sobre os contrastes culturais entre Brasil e Alemanha, tendo como personagens um casal em Berlim, ele brasileiro, machista, ela alemã, feminista. Vale a pena conferir!